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domingo, 17 de junho de 2012

Prestes a atingir maior efetivo em 17 anos, Polícia Civil gaúcha aposta em geração mais jovem e tecnológica.

Para ver matéria completa e vídeo acesse pelo link:

Grupo de alunos do curso de agentes dá prioridade à tecnologia em lugar da força
Alunos são treinados no uso de tecnologia contra o crime
      Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS























Humberto Trezzi
humberto.trezzi@zerohora.com.br

     No final de 2012, o Rio Grande do Sul receberá uma fornada de 782 novos policiais civis. Quando eles forem incorporados, a Polícia Civil ficará com 6.059 integrantes, seu maior efetivo em 17 anos. E um dos maiores das últimas três décadas.
     E quem são esses novatos? A valentia continua admirada, o pé na porta ainda pode ser solução numa emergência, mas os policiais da geração atual dão prioridade a outros métodos. Computador, lupa, pós químicos e uso da psicologia nos interrogatórios cada vez mais substituem as armas e os músculos.
    Tecnologia é tudo na moderna investigação policial. E isso começa pela Academia, onde os candidatos a agente receberão mil horas de aula. Na Delegacia Experimental, uma sala que reproduz o ambiente onde os futuros policiais trabalharão, a média é de quase um computador por aluno, com acesso à internet e aos bancos de dados da segurança. Os alunos aprendem a preencher um boletim de ocorrência, a elaborar um inquérito, a checar antecedentes de um suspeito. Com direito a pesquisar endereços, contas etc, como acontece numa delegacia real.Em vídeo, conheça o treinamento da Polícia Civil 

Academia do futuro

     Formação e idiomas – Desde 1997, todos os policiais civis têm de ter curso superior. Nos anos 1980, a exigência era feita apenas aos delegados, que tinham de ser formados em Direito. E, nas décadas anteriores, nem aos delegados. Em alguns casos eram admitidos delegados não formados, apelidados calças-curtas. Muitos dos jovens alunos trazem seu notebook às aulas e falam inglês, além de espanhol.
     O peso da perícia – Os alunos são conduzidos aos prédios do Departamento Médico Legal (DML) para aulas de anatomia. Vão aos laboratórios do Instituto-geral de Perícias para adquirir noções de balística, isolamento de local de crime, recolhimento de provas.

     Cidadania e Direitos Humanos – Algumas disciplinas da Academia de Polícia Civil são novidade, se comparadas com o que era ministrado há algumas décadas. A ideia é mostrar aos policiais que até suspeitos de crime são cidadãos, com direitos a serem respeitados. Não por acaso, uma das matérias que os novatos aprendem, ministrada pelo ex-chefe de Polícia Pedro Rodrigues, chama-se Ética e Cidadania: formando um Policial Cidadão. São temas recomendados pelo Ministério da Justiça a todas as polícias.

     Seguindo a cartilha legal – Muita gente não sabe, até por não ser nascida naquela época, mas até 1988 policiais podiam entrar na casa de suspeitos sem mandado judicial. A ordem de busca e apreensão era preenchida pelo próprio delegado. Na academia, os novos alunos aprendem que, sem mandado judicial, o serviço cai por terra. Entrar sem autorização só mesmo em casos de risco de vida, flagrante ou para evitar um crime.

     Ambiente mais feminino – Há três décadas, mulher na Polícia Civil era tão raro que virava celebridade e motivo de conversa. No atual concurso para agente, quase a metade dos alunos (41,3%) é mulher. Elas não dispensam batom, mas não fogem das aulas de judô e adoram o curso de tiro.

    A polícia mudou – Ainda é possível encontrar policiais de bombacha e alpargata derrubando uma porta, como ocorreu recentemente numa operação em Viamão, mas a regra agora é uniforme, escudo protetor, muito planejamento e menos sangue possível. Qualificação, mas ainda falta quantidade. Embora grande, o novo contingente nem de longe supre a necessidade de policiais civis, cujo número deveria ser o dobro do atual.

Perfil de um policial à moda antiga
     Condecorado pela prisão de notórios assaltantes de carros-fortes como Papagaio e Seco, o comissário Mauro Alves da Silva tem mais de 30 anos de atividade e saudade dos antigos tempos na Polícia Civil. Inclusive do tempo em que o mandado de busca e apreensão na casa de um suspeito podia ser expedido pelo próprio delegado de polícia.

     – Tínhamos muito mais autonomia. A atividade se burocratizou a partir da Constituição Federal de 1988, quando a polícia passou a ter que pedir quase tudo ao Judiciário para poder trabalhar.
     Mauro lembra que o ambiente, até o final da década de 70, era predominantemente masculino. Isso, diz, por ser uma atividade de risco de vida, violenta e que dependia muito da força física do agente. A partir do início da década de 80, as mulheres começaram a ganhar espaço também nas polícias. De início, em atividade de cartórios, depois também na investigação – "e várias fazem ótimas investigações", ressalta o comissário.

     Ele diz que antes o trabalho era mais na rua:

     – Tudo é uma questão de época. Para o policial obter boas informações, tinha de andar na vila e frequentar a noite (casas noturnas), de onde conseguíamos informantes bons. O que não se aplica nos dias de hoje, pois se o policial caminhar na vila, pouco conseguirá. A população teme represália dos bandidos.

    Ele considera que a atividade policial de hoje é muito mais formal, para atender à legislação, já que tudo precisa ser registrado. Natural, para ele, que na Academia exista hoje grande ênfase ao treinamento de inteligência e conhecimento da legislação.

     Seis lições para elucidar um assassinato

    Crimes contra a vida são a prioridade das prioridades. "Quem matou?" é a pergunta que mais vai atormentar os futuros policiais. A primeira lição é a corrida contra o tempo. Em um mês, a testemunha esquece detalhes, o policial também. Ficam para trás a cor da roupa e o tipo de cabelo do atirador. ZH assistiu a uma aula sobre investigação de homicídios. Confira dicas dadas aos alunos:

Fúria passional
Nos crimes muito sangrentos, com uso de lâminas e mutilação, a suspeita recai sobre mulheres ou parceiros do morto. Muitas vezes quem acha que foi traído ou trocado não se contenta em matar, tem de aniquilar o objeto da paixão. Ferimentos na face costumam ser indício de possível identidade feminina (ou afeminada) do matador.

Quando o morto fala
Parte das respostas para o crime pode ser dada pelo morto, na forma com que o corpo foi encontrado. Tiros à queima-roupa são indícios de execução e possível conhecimento prévio entre a vítima e o matador. Mãos e braços perfurados junto ao rosto também indicam execução, porque a vítima tentou se defender.

Homicídio ou suicídio?
O corpo está pendurado por uma corda numa árvore. Suicídio? Talvez. Aí as marcas da corda no pescoço costumam ser regulares. Já marcas irregulares e fragmentos de pele embaixo das unhas do morto costumam indicar que ele foi assassinado: debateu-se, fazendo a corda se mover, e feriu o assassino ao tentar se defender.

Pólvora nas mãos
Pólvora nas mãos de um suspeito é indício de que ele disparou uma arma de fogo. E quando a pólvora está nas mãos de quem morreu? É indício de que essa pessoa também disparou (mesmo quando a sua arma não é encontrada). E, se quem morreu disparou, o autor do homicídio pode ter agido em legítima defesa.

Sangue do matador
Isolar o local do crime é fundamental porque muito do que está ali pode servir de prova. O sangue, por exemplo, pode não ser apenas da vítima do homicídio. Quando surge um suspeito, o sangue dele é comparado com o encontrado no local do crime. Com base no seu DNA, é possível comprovar envolvimento no delito.

Digitais da arma
Toda arma dispara de um jeito único. A agulha (mecanismo de percussão) bate no projétil da mesma forma, deixando uma marca inequívoca. É por isso que, após apreender uma arma, o perito faz testes e verifica se a cápsula disparada é igual à cápsula encontrada junto à vítima de homicídio. Se for, está localizada a arma do crime.

O trabalho dos infiltrados
Infiltrar um policial no meio criminoso é uma das atividades mais difíceis – e, por isso, uma das disciplinas mais estudadas na Academia. No curso de Inteligência Policial, os alunos aprendem não apenas a se disfarçar de bandidos, como a analisar as informações coletadas e planejar as prisões que elas possam originar. Algumas regras:

Como atender a um telefonema: disfarçado, em frente ao chefe da quadrilha, o policial recebe um telefonema inesperado. "Alô, mãe, posso falar depois?" é uma das frases sugeridas para este momento crucial. Tudo, desde que seu disfarce não seja descoberto.

Ao deparar com um crime: faz parte do disfarce agir como um criminoso. Prender alguém significaria se expor. O policial deve esperar e avisar aos colegas, depois, quem foi o autor do delito.

Quem se disfarça não prende: o objetivo do infiltrado é coletar informação e repassá-la aos colegas. Não é prender. A prisão é a última etapa, muito depois da investigação estar concluída.

Ação em vila de mentira
Pistola na mão, tensão no ar, correria, gritos... qual policial não gosta de ação? Pois os novos recrutas da Polícia Civil adoram. Embora planejem, estudem e se preparem mais que os de gerações anteriores, os novatos também curtem o ápice da atividade policial, a prisão dos "maus elementos".

Uma das aulas mais frequentadas é a disciplina de Técnicas de Operações Policiais, ministrada pelo delegado Mauro Vasconcellos e pelo inspetor Ramiro Santos da Silva. O treino é feito dentro de uma "favela" de mentira. Um festival de berros, adrenalina e algemas, que faz a diversão dos alunos a cada pequena gafe.

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