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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O SOCORRO QUE NÃO VEIO, E QUANDO VEIO, TARDOU...- Opinião, por Ronie de Oliveira Coimbra*

O SOCORRO QUE NÃO VEIO, E QUANDO VEIO, TARDOU...- Opinião, por  Ronie de Oliveira Coimbra*
Sei que estou colocando mão sem luva em vespeiro, mas creio que o tema deva ser debatido, como já o está, e eu também quero expor minha opinião a respeito do episódio, muito explorado pela mídia, em que uma pessoa morreu, após sofrer uma parada cardiorrespiratória em uma rua em Porto Alegre, e o culpado eleito pela imprensa, primeiramente foi o médico regulador da SAMU, que não despachou uma ambulância para o socorro; em segundo lugar o próprio serviço da SAMU, questionando-se o seu funcionamento; e, por fim, a gestão pública que administra os serviços de saúde nos municípios, neste caso, especificamente em Porto Alegre.
A meu juízo é fácil concluir que o trágico episódio requer uma investigação muito bem detalhada e muito bem conduzida, pois se é fato que existia recurso público disponível e em condições de atender a emergência – sem problemas mecânicos, abastecida, com motorista, enfermeiro, e equipada -, e se isto restar provado, houve um grave equívoco por quem é responsável pela regulação do despacho das ambulâncias da SAMU. Entretanto, como é de meu costume fazer, não saio a caçar bruxas, na busca de eleger de imediato um culpado pelos acontecimentos. Esta busca deve ser criteriosa, isenta e imparcial, livre das paixões e preconceitos que ornam nossa personalidade, portanto sem precipitação, e sem antecipações de julgamentos, muitas vezes baseados somente no que a reportagem nos trouxe, ou nas opiniões que se seguiram.
Apesar de todo a discussão que segue, tomo a liberdade de incluir outras questões no tema, que acredito sejam pertinentes e passíveis de discussão e reflexão do leitor:
A primeira delas é que, na condição de profissional de segurança pública - com 26 anos de experiência, muitos deles em serviço nas ruas – percebo que falta solidariedade para muitas pessoas, pois é recorrente a preferência em acionar o recurso público e esperá-lo, mesmo que demore ou não venha, e se omitem no socorro mais ágil. No caso que comento, ouvi e li pessoas alegarem que se precisava de um veículo especial, ou seja, uma ambulância equipada para a remoção da pessoa que agonizava, mas, no final, se contentaram que o socorro fosse prestado por uma viatura da Brigada Militar, quando esta apareceu, que, sabemos, é um carro para o policiamento, não especializado para o transporte de pessoas que sofram mal súbito ou paradas cardiorrespiratórias. Inclusive, eu penso, que a própria equipe que fazia a reportagem, com o carro que estava à disposição deles, poderia ter feito o socorro, eis que o médico regulador já tinha informado que não existia ambulância disponível.
Daí formulo a seguinte indagação: Afinal de contas a preservação da vida não deve prevalecer sobre protocolos? Certamente que uma ambulância é a melhor forma de transportar uma pessoa que esteja submetida a uma parada cardiorrespiratória, porém, na indisponibilidade desta, qualquer carro serve para fazer o transporte, pois ficar no leito de uma via não lhe proporcionará que seja salva e receba o devido atendimento. Este procedimento de socorro não causará responsabilização, mesmo que a pessoa venha a entrar em óbito, pois agiu baseada no que a Lei chama de inexigibilidade de conduta, ou em um conceito maior, ao abrigo da excludente de criminalidade nomeado de “estado de necessidade”. A grosso modo, não tem o que fazer a não ser socorrer a esta pessoa e conduzi-la a um hospital. Ou alguém está a pensar em responsabilizar os policiais militares que prestaram o socorro? Mas qual a diferença dos automóveis que estavam ali próximos com a viatura da polícia? O giro flash, a sirene, a serigrafia, a cor característica, e outros detalhes, no mais nenhuma outra diferença.
E para finalizar assevero que é um exercício de cidadania, e isto está muito claro, instar para que os serviços públicos funcionem, mas até mesmo estes serviços, a exemplo da SAMU, tem limites na sua capacidade de atendimentos, e, por outro lado, muito importante ressaltar, que muitas pessoas que integram a população, acionam os serviços da SAMU sem que exista emergência, e para isto contam uma estória terrível ao médico regulador que faz a triagem, e quando os profissionais lá chegam, está, por exemplo, a mulher grávida, com a mala prontinha para que a levem ao hospital (um táxi público), quando não é o ébrio, ou outro caso que não é emergência, a exemplo de uma pessoa com uma fratura em uma escola, e que o educador entendia que era uma emergência, mas não era. Obviamente que, nestas condições de má mobilização, pode carecer ambulância em casos reais de emergência. Este é um outro ponto a destacar, e cada vez mais recorrente em nossas cidades.
Nossos serviços públicos estão na emergência, não tenho dúvida, mas, em um leito ao lado, na UTI, está, agonizante, a solidariedade das pessoas, pois este exemplo rumoroso, polêmico, dentre tantos outros que presenciei e soube que ocorreram, serviu para que eu concluísse que se o serviço público não vir socorrer, ninguém mais o faz, o que é uma lástima.

*Major na Brigada Militar

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