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terça-feira, 3 de abril de 2012

Relações Espúrias - Editorial de Zero Hora sobre o caso do Senador Demóstenes Torres

Zero Hora - 03 de abril de 2012

EDITORIAIS
RELAÇÕES ESPÚRIAS

Acuado por uma avalanche de fatos comprometedores expostos pela divulgação de trechos de centenas de escutas telefônicas de conversas mantidas com Carlos Augusto de Almeida Ramos – conhecido na área de exploração ilegal de jogos de azar como Carlinhos Cachoeira –, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) choca os brasileiros pelo fato de, até agora, ter posado de paladino da ética. A alegação de não saber mais quem é o Demóstenes, feita na última semana, reforça as suspeitas de que, no plenário do Senado e fora dele, vinha pautando sua atuação por uma dissociação entre o discurso e a prática. Quando a máscara caiu, pela força das evidências, o desencanto acabou afetando não apenas os senadores que, por corporativismo ou pela crença na retidão moral do colega, se solidarizaram com ele diante das primeiras denúncias, mas também os eleitores e a própria atividade política. O desfecho do caso irá demonstrar se, mais uma vez, a democracia está preparada para extirpar e punir este tipo de deformação.

Em quase dois séculos de história, o Senado só se mostrou capaz até hoje de cassar um único integrante – o senador Luiz Estevão de Oliveira (PMDB-DF), sob a acusação de ter mentido a seus pares. Ainda recentemente, quando sua imagem seguia associada à moralidade, o político goiano defendeu que os destinos da nação não podem ser geridos por quem não tem “conduta adequada à dignidade das relevantes funções públicas”. Confrontado com as primeiras ilações de atuar como lobista de interesses ligados à contravenção, o senador negou tudo. As gravações, porém, mostram que, em troca de favores, teria recebido do contraventor – a quem chamava de “professor” e por quem era tratado como “doutor” – uma série de vantagens financeiras. Entre elas, estão desde presentes dispendiosos até pagamento de viagem de táxi aéreo.

A única razão para consolo entre os eleitores, diante das estarrecedoras denúncias envolvendo o senador goiano com a contravenção, é a particularidade de as instituições estarem agindo com rigor no enfrentamento do caso. Na semana passada, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para apurar as denúncias feitas pela Polícia Federal. O ministro do STF Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de sigilo bancário do denunciado. No Senado, o PSOL entrou com representação no Conselho de Ética, que está sem presidente. O DEM, que, a exemplo do PT no passado, transformou as denúncias de corrupção em governos aos quais se opõe em uma de suas bandeiras, busca uma saída o menos desgastante possível.

Lamentavelmente, ao invés de rechaçar as denúncias com argumentos convincentes, a defesa do político tem insistido na tese de que as provas, baseadas em grande parte em escutas telefônicas, são nulas. O Senado, a política e a democracia sairiam fortalecidos se pudessem enfrentar com o rigor da lei um caso tão inaceitável pela sociedade como o do político goiano.

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