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sábado, 10 de março de 2012

"Uma guerra nada santa" - Artigo crítico de Percival Puggina sobre a decisão de erradicar crucifixos dos Tribunais.


Zero Hora - 11 de março de 2012
ARTIGOS

Uma guerra nada santa, por Percival Puggina*


Para o Conselho de Magistratura do TJ/RS, todos os desembargadores – centenas! – que por ali passaram ao longo de 121 anos eram cegos de bengalinha ante os crucifixos das salas de audiência ou incompetentes para entender o sentido da laicidade do Estado constante de todas as Constituições republicanas.

Teses sem ressonância social vêm atropelando a pauta das prioridades e virando o país do avesso. Foi o caso dos crucifixos. Tão do avesso, que ganhou manchetes. Responda-me, leitor: de cem pessoas que ingressam numa sala de audiências, quantas ficam dispneicas, taquicárdicas ou entram em sudorese se veem um crucifixo? Nenhuma? Pois é. E quantas – na real, sem exageros – se sentirão pessoalmente injuriadas por aquele símbolo? Ante símbolos religiosos, pessoas normais reagem com respeito ou com indiferença. Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade. Portanto, os que investiram contra os crucifixos e enrolaram em seus argumentos cinco magistrados gaúchos, são portadores de uma idiossincrasia, de uma aversão pessoal. Tal abominação é um problema que está nelas. Juro, o crucifixo é inocente! Tampouco é um problema da sociedade ou do Estado brasileiro, como já decidiu o Conselho Nacional de Justiça em 2007. A retirada dos crucifixos toma a situação pelo seu avesso. Considerou discriminatória a presença do símbolo, quando discriminador e preconceituoso é quem posa de ofendido por ele. Ou não?

O Estado brasileiro não é ateu, é laico, mas a laicidade, no sentido em que é definida pela Constituição, recusa as pretensões do ateísmo militante. O Estado brasileiro não é inimigo da fé; ao contrário, com vistas ao interesse público, colabora com as confissões religiosas (CF, art.19, I). Prevê assistência religiosa aos que estão presos (CF Art. 5º VII). Também por essa compatibilidade de fins há capelães nas Forças Armadas. Retirar os crucifixos para acolher como saudáveis reações que afrontam a consciência civilizada não é defender o laicismo mas curvar-se ao ateísmo militante, de pouco futuro e péssimo passado.

No volumoso Curso de Direito Constitucional (Ed. Saraiva, 2007), após citar o professor alemão Peter Häberle para demonstrar que elementos religiosos, como os feriados, são bem-vindos porque reacendem na memória coletiva suas raízes culturais, Gilmar Mendes e outros dois autores concluem assim o capítulo em que tratam da liberdade religiosa: “O Estado que não professa o ateísmo pode conviver com símbolos, os quais não somente correspondem a valores que informam sua história cultural como remetem a bens encarecidos por parcela expressiva de sua população – por isso, também, não é dado proibir a exibição de crucifixos ou de imagens sagradas em lugares públicos”.

Não há uma única evidência de que crucifixos em salas de audiência tenham patrocinado descumprimento do nosso Direito para adotar imposições canônicas. Portanto, o que mais corretamente se pode assumir como efeito da presença do símbolo é exatamente o inverso do alegado. Ele inspira boa justiça. Na tradição ocidental, é símbolo máximo da dor e da aflição causada pela injustiça!

Seus adversários olham para o crucifixo mas focam, lá na frente, os princípios, os valores e as tradições que lhe são implícitos. Muitos, como os relacionados à defesa da vida, à dignidade e aos direitos humanos, às liberdades, à família, compõem convicções constitucionalizadas no Brasil e se refletem nas deliberações legislativas. É contra esse alvo que o ateísmo militante está declarando guerra e rufando tambores. Não agem por amor à Constituição, mas por ódio ao perfume cristão que ela legitimamente exala. Como escrevi anteriormente: deixem ao menos os pregos!

Um comentário:

  1. Posto aqui um comentário que recebi do sudeste do brasil...

    Leio nos jornais que o Ministério Público pretende processar os militares por crimes da época em que governaram o Brasil. Um dia antes, soube que a reforma do Código Penal abrigará a “flexibilização” do aborto e a eutanásia. A Lei da Anistia foi rasgada pela metade e o MP vai processar apenas um dos lados da História, e as mudanças do Código Penal atropelarão a vontade da esmagadora maioria dos brasileiros, que rejeitam o aborto e a eutanásia. Militares reformados, por sua vez, são ameaçados de processo por, digamos, “crime de opinião”, ao publicarem críticas a duas ministras em página de seu Clube. O Supremo Tribunal julga um determinado ato inconstitucional em um dia, e muda de ideia no outro, por “generosidade”, de acordo com as palavras do Ministro Fux. No Rio Grande do Sul, um juiz determinou a retirada de símbolos religiosos de escolas e repartições públicas. Há ainda o fantasma da censura prévia à imprensa, que não deixou de nos rondar. Os sinais estão dados. Um regime autoritário, onde a arbitrariedade toma lugar das leis e a Constituição nada vale, nasceu. Hoje são os militares, a nossa vontade manifesta em pesquisas, os símbolos cristãos; amanhã a imprensa, e depois... Por precaução, é melhor que os leitores parem de enviar suas opiniões aos jornais imediatamente. Talvez ainda haja tempo de salvarmos nossas peles.


    M.Cristina Rocha Azevedo
    Florianópolis, SC

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