Concluo, pelo que vejo, leio e escuto, que grassa na cultura brasileira
a prática de culpar sempre o outro pelos acontecimentos, enquanto “eu” me eximo
de quaisquer responsabilidades, tanto por ação ou omissão.
Lembro-me de um episódio, ocorrido há algum tempo, em que o condutor de
um veículo acidentou-se na Avenida dos Estados, na entrada de Porto Alegre, ao
lado da Estátua do Laçador, morrendo logo em seguida por causa do forte impacto.
Apurou-se que o condutor trafegava em altíssima velocidade. Parente deste condutor,
em depoimento a um jornal, falou que a culpa pelo acidente fora do automóvel,
pois este era muito potente, e disse mais: que faltou fiscalização da polícia e
das autoridades de trânsito. Em nenhum momento falou que dirigir em altíssima
velocidade, incompatível com a via, poderia ter causado o acidente.
Recentemente li postagem no facebook que noticiava que um assaltante foi
morto quando tentou assaltar, a mão-armada, um policial. O pai do assaltante se
manifestou em um jornal, e claro que a dor da perda de um filho não tem
descrição, mas dizer que a culpa da morte do filho foi do policial está fora do
razoável. Não existe culpa do assaltante, que desta feita não encontrou uma
vítima indefesa e desarmada? Escolher o caminho do crime tem consequências que
são da alçada exclusiva da pessoa que o escolhe, entretanto, não poucas vezes,
muitos eruditos e autoridades dizem que a culpa é de todo mundo, menos do
bandido.
Duas semanas atrás desabaram três prédios no Rio de Janeiro. Busca-se um
culpado. Este pode até ser o empresário que realizou obras no maior dos
prédios, cuja queda arrastou consigo outros dois prédios menores. Mas e as
pessoas que viram as obras acontecerem, já de longa data, não são responsáveis
por omissão, pois ao enxergarem a irregularidade nada fizeram? Bem, penso que o
problema não era delas.
Essa é a questão que entendo central: “O problema não é meu”. Arranjamos
desculpas e desculpas para não assumirmos responsabilidades e quando acontece o
desastre, o acidente, o sinistro, nos enveredamos pela busca de um culpado que,
claro, sempre será o outro.
Assim é em segurança pública. O problema é das polícias civil e militar,
mesmo que eu compre peças de automóveis de origem duvidosa em desmanches; ou
que eu compre produtos piratas, cujo dinheiro vai financiar o crime organizado;
ou que eu faça a “fézinha” no jogo do “bixo”, jogue nos caça-níqueis ou nos
bingos ilegais, cujos ganhos vão azeitar as engrenagens da máquina do crime,
como compra de armas e drogas; ou que eu acione os serviços da polícia para
coisas que não são de polícia, ou então que eu passe trotes, práticas que
retiram o policiamento preventivo de locais que necessitam da presença
ostensiva da polícia.
Mas porque eu teria que me preocupar com tudo isto? O problema de
segurança pública não é minha responsabilidade, é da polícia.
Ronie de Oliveira Coimbra
Major – Cmt do 33º BPM de
Sapucaia do Sul
Caro Ronie, excelente texto, vou repercuti-lo em outros blogs, se me deres permissão é claro. Parabens. Grande abraço.
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