Zero Hora - 14 de dezembro de 2011
FIM DE UM SONHO
Desabafo de uma defensora da paz
Advogada lamenta o encerramento das atividades, por falta de apoio, do instituto que ajudou a criar para combater a violência
FIM DE UM SONHO
Desabafo de uma defensora da paz
Advogada lamenta o encerramento das atividades, por falta de apoio, do instituto que ajudou a criar para combater a violência
O Instituto Chega de Violência chegou ao fim. Depois de sete anos de trabalho voluntário de prevenção à criminalidade em Porto Alegre, a entidade não resistiu à falta de recursos, ao desinteresse da comunidade e à indiferença do poder público. Criado pelos advogados Mathias Nagelstein, Helena Raya Ibañez e Corina Breton, o movimento nasceu da indignação pelo assassinato de um colega de profissão, Geraldo Diehl Xavier, morto aos 37 anos em uma assalto na saída de um banco, em dezembro de 2004, em Porto Alegre.
A revolta pelo crime fez o trio comandar uma corrente social que não suportava mais ver de braços cruzados o crescimento da violência.
– Tenho cinco filhas e cinco netos. Desses, só uma filha que mora nos EUA, e um neto, bebê, não foram assaltados à mão armada. A Constituição diz que a segurança pública é dever do Estado e responsabilidade de todos – lembra Corina Breton, 74 anos.
Em uma das primeiras reuniões do grupo, mais de 300 pessoas lotaram o auditório da Câmara de Vereadores, quase todas parentes de pessoas mortas pela criminalidade. O movimento se fortaleceu, tornou-se um instituto com estatuto e diretoria. Liderou protestos, batia à porta de autoridades com projetos e cobrando respostas.
Reunia-se uma vez por semana para traçar ações em uma sala emprestada pela rede de hotéis Plaza. Mesmo sem recursos financeiros, mantinha-se com doações, venda de camisetas e jantares e eventos beneficentes.
O que arrecadava era investido em campanhas e até em doações como a de 60 coletes à prova de balas para a Brigada Militar, em 2008. As iniciativas renderam à entidade homenagens, diplomas, medalhas e condecorações.
Mas, aos poucos, a mobilização perdeu força. Os primeiros líderes se afastaram por razões profissionais e novos integrantes não suportaram a carga de compromissos para arrecadar recursos. Em paralelo, cada vez menos pessoas se engajaram no movimento, e as autoridades passaram a fazer “ouvidos moucos” aos apelos da entidade.
Agora, cabe a Corina Breton, a ativista fundadora que mais tempo esteve à frente da entidade, cerca de quatro anos, fechar as portas da entidade.
– No dia em que entreguei a chave da sala, chorei muito. Dei muito da minha vida para o instituto, era como um filho – lamenta.
joseluis.costa@zerohora.com.brJOSÉ LUÍS COSTA
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