Zero Hora - 27 de dezembro de 2011
PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA
Cabide de empregos
PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA
Cabide de empregos
Japoneses e alemães acostumados com assessorias enxutas em seus parlamentos devem ter imensas dificuldades para entender uma notícia como a publicada na edição de ontem de Zero Hora, de que o Senado brasileiro abriu inscrições para um concurso que selecionará 246 pessoas com salários de R$ 13,8 mil a R$ 23,8 mil. O Brasil, agora sexta maior economia do mundo, tem uma média de 77,3 assessores para cada um dos 81 senadores e ainda vai fazer concurso para contratar mais 246. Mais ricos e mais austeros, Japão e Alemanha jamais teriam como acomodar essa multidão em seus parlamentos por falta de espaço físico e de trabalho para ocupar as oito horas diárias.
O Senado brasileiro tem hoje 3.187 funcionários efetivos e 3.076 em cargos em comissão. Se você duvida, passe lá no site www.senado.gov.br, clique em Portal da Transparência e confira o nome de cada um. A lista de cargos e funções, com a respectiva data de admissão, soma 259 páginas nos efetivos e 251 nos comissionados. O site oferece também informações sobre a “estrutura remuneratória”, com salários de encher os olhos dos chamados “concurseiros”.
Por que o Senado precisa de tantos funcionários? Eis aí uma pergunta para a qual ainda está faltando resposta satisfatória. Se fosse uma empresa, quantos funcionários deveria ter o Senado para produzir o que produz? Dá para imaginar o que faz esse exército de 6.263 pessoas?
A Câmara dos Deputados não fica atrás. São 17,7 mil servidores, entre efetivos, comissionados e cedidos de outros órgãos, numa média de 34,5 para cada deputado – parte deles ligada diretamente ao gabinete, trabalhando em Brasília ou na base eleitoral, e outra na estrutura da Câmara. Recentemente, a Câmara criou 66 cargos para atender à bancada do PSD, sem que o número de deputados tenha sido alterado. Em vez de remanejar as vagas e os espaços dos partidos que perderam deputados para o PSD, criam-se novos cargos, como se as verbas públicas fossem elásticas.
A propósito, tanto no parlamento alemão quanto no japonês, o número de assessores de cada parlamentar é mínimo. Na Alemanha, cada deputado tem uma equipe ínfima e conta com os serviços de técnicos que trabalham para a bancada inteira. Por ocuparem gabinetes exíguos, no Japão é comum os parlamentares receberem visitantes em salas de uso comum, funcionais e sem nenhuma ostentação.
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