Ao ler hoje (03/setembro/2013) o
Jornal VS, página 18, vi uma nota em que a Ministra da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, elogia o desfecho do
caso Amarildo, e destaco duas manifestações dela, incluídas na nota: "O
indiciamento de 10 policiais militares pelo desaparecimento do pedreiro
Amarildo de Souza, 43 anos, morador da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro,
indica um amadurecimento das instituições. Para a ministra, ao investigar
policiais o Estado sinaliza com a possibilidade de que agentes públicos, em
caso de violação de direitos humanos, não fiquem a margem de serem
responsabilizados." Disse ainda a ministra "que caso as investigações
confirmem a responsabilidade dos policiais, o episódio demonstrará a
necessidade de reforma das polícias."
Como cidadão e policial militar me
obrigo a fazer dois reparos: Primeiro que esta história de “amadurecimento das instituições”
que quer construir uma imagem no imaginário das pessoas de que o policial
militar não é responsabilizado por seus atos, e que age na ilegalidade, não
corresponde à realidade, pois os policiais militares são os agentes mais
cuidados e investigados neste País, pois todas as instituições repousam o olhar
sobre eles em seu trabalho, a exemplo do Ministério Público, Defensoria
Pública, Polícia Civil, Comissões de Direitos Humanos de todos os níveis
(Municipais, Estaduais e Federais) e a própria sociedade, que atualmente não
mais se omite em denunciar desmandos e práticas desviantes de policiais. Há que
se ressaltar que em determinados casos o policial militar é investigado por
todos estes órgãos que citei, além da sua própria corporação, em uma única
prática, algo impensável para muitos, pois afrontaria seus direitos civis e
humanos ser submetido a tamanha carga investigativa por parte do Estado.
Esqueceu a ministra de dizer, e eu não esperava que isto acontecesse mesmo, que
os policiais militares possuem um tratamento rigoroso da lei quando da práticas
de desmandos em serviço, e trago à baila o exemplo recente de uma Sargento da
Brigada Militar que foi condenada a mais de dois anos de prisão por lesão
corporal, e restou presa em regime fechado. Um cidadão civil tem um tratamento
mais condescendente da legislação, pois no mesmo caso muito provavelmente teria
o processo suspenso, e na hipótese, muito improvável, mas muito improvável
mesmo, de condenação, teria como sanção penas alternativas, como trabalho
voluntário ou pagamento de cestas básicas.
Quanto a segunda afirmação de que se
restar provado a responsabilidade dos policiais militares fluminenses se faz necessário
reformas nas polícias, eu, na minha percepção, enxergo uma aversão pessoal
contra as instituições policiais e o pecado da generalização. Inicialmente
porque o Brasil é um País continental, e sequer se poderia cogitar mudanças em
todo uma corporação de um Estado diante de um caso somente, imaginemos então,
de todas as polícias de um País continental como o Brasil, por eventos
acontecidos em uma corporação de um ente federativo somente. Por fim, vamos
construir um raciocínio e concordar com a ministra que mudanças sejam
necessárias por causa destas práticas criminosas por parte de policiais, mas eu
não leio, não ouço ela comentar da necessidade de uma reforma política diante
de tantos desmandos cometidos por governantes, congressistas e políticos por
este País afora, cujas práticas são por demais perniciosas para milhões de brasileiros.
Bem, me parece que isto não interessa
ser dito, pois jogar meias verdades é bem melhor do que analisar um tema com
profundidade e em sua totalidade.
* Major na Brigada Militar
do Rio Grande do Sul
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