Zero Hora - 20 de novembro de 2011
ARTIGOS
Empregos contra o crime,
por Marcos Rolim*
ARTIGOS
Empregos contra o crime,
por Marcos Rolim*
Richard Branson é
um megaempresário britânico dono da Virgin Group. A marca “Virgin” tornou-se
conhecida mundialmente pela editora e pelas lojas de discos e filmes, mas o
grupo atua em muitos outros ramos, com centenas de empresas espalhadas pelo
mundo em áreas tão diversas como as telecomunicações, as ferrovias e a aviação.
Branson tem uma política de contratação de pessoal que pareceria estranha à
maioria dos empresários brasileiros: ele estimula que suas empresas contratem
egressos do sistema penitenciário. A decisão surgiu após ele ter visitado uma
prisão na Austrália, a convite da criadora do Comic Relief Jane Tewson,
conhecida por suas causas humanitárias e impopulares. Lá, ele se encontrou com
representantes da transportadora Toll, que empregou, nos últimos anos, 460
ex-prisioneiros, nenhum dos quais reincidiu. Para Branson, a situação é óbvia:
“Na Austrália, conversei com um ex-preso que me contou o que ocorreu no momento
de seu livramento. Ele não tinha sequer o dinheiro para a passagem de ônibus e saiu
da prisão a pé. Tentou emprego, mas não conseguiu, precisamente por ter
cumprido pena. Então, logo reincidiu e foi preso novamente. Este é um círculo
vicioso que precisa ser superado”.
A política de
Branson não significa preferência por egressos, porque a seleção segue sendo
por mérito. O que ocorre é que ex-condenados sabem que naquelas empresas não
haverá preconceito contra eles e, logicamente, as procuram. O jornal The
Guardian perguntou a Branson se ele empregaria jovens envolvidos nos recentes
motins de Londres. A resposta: “É claro que sim, sem hesitação. Eu cometi
alguns erros e poderia facilmente ter passado um tempo na prisão por sonegar
impostos, por exemplo. Então, eu teria tido grande dificuldade em encontrar um
emprego, a Virgin não existiria e nem seus 60 mil empregos”. E acrescenta: “Nós
já flagramos funcionários furtando discos e lhes demos uma segunda chance. Um
menino desviava discos para outras lojas. Foi-lhe dada uma segunda chance e ele
se tornou um dos melhores funcionários que já tivemos”.
No mês passado, em
nota à imprensa, Branson e outros grandes empresários ingleses, incluindo Marc
Bolland da Marks & Spencer, convocaram mais empresas a dar empregos a
pessoas com registros criminais, dizendo: “Nossa experiência mostra que pessoas
egressas da prisão, se adequadamente selecionadas, irão provar que são tão
confiáveis quanto quaisquer outras”. O tema deveria interessar aos gestores
brasileiros da segurança pública.
Para além de
qualquer consideração sobre os direitos das pessoas, lidamos aqui com a
possibilidade de impactar fortemente – e em curto prazo – os indicadores de
criminalidade. Uma política de prevenção terciária de amparo aos egressos, que
estimule a profissionalização e a entrada no mercado de trabalho, aos moldes do
que o Grupo Cultural AfroReggae tem feito no RJ, por exemplo, fará mais pela
redução da violência e do crime do que todos os esforços de repressão somados.
E custará muito menos. Uma política do tipo exige apenas a coragem necessária
para enfrentar o senso comum e não se dobrar aos preconceitos e à intolerância
disseminada.
marcos@rolim.com.br
marcos@rolim.com.br
*JORNALISTA
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