17 de outubro de 2011 | N° 16858
J. A. PINHEIRO MACHADO
Não digam a mamãe que
eu sou jornalista
Corrupção é a palavra mais citada nos jornais. As denúncias se sucedem. Sobre a mais recente, do fim de semana, uma afirmação do ministro do Esporte: os acusadores têm que provar a veracidade das suspeitas. Há uma certa confusão aí. Se alguém acusa, por exemplo, o colunista interino de um jornal, ou o dono de um mercadinho, por certo tem que provar. No caso de uma autoridade pública, o ministro tem que provar diariamente não apenas que é inocente, mas que é eficiente e necessário. Se a acusação for falsa, a lei e a Justiça oferecem pesadas punições. Mais do que isso, o jornal ou revista que acusar indevidamente terá pela frente a pior das sentenças: o descrédito dos seus leitores. Esse é um tribunal implacável. A espada afiada da frágil confiança do público diariamente pende sobre a cabeça dos jornalistas. Nunca esqueço da advertência de um precioso livro de normas de redação do jornalista Carlos Maranhão: num texto de 200 linhas absolutamente corretas, basta um único erro, uma imprecisão na última linha, para que o leitor duvide da exatidão de tudo o que leu antes.
Joseph Pulitzer, o jornalista e empresário que, no início do século passado, fundou o moderno jornalismo nos Estados Unidos, enumerava a seus repórteres três exigências para a publicação de uma matéria: “precisão, precisão e precisão”. O seu jornal, The World, praticava um jornalismo rigoroso, denunciando e combatendo a corrupção política: orgulhava-se de ser “um defensor do lado das pessoas e um porta-voz da democracia”. Não hesitou em lutar ao lado dos operários por menos horas de trabalho e melhores condições de vida para os pobres, irritando as grandes companhias e monopólios laborais.]
Os príncipes se irritam com o conhecimento da verdade, quando ela se opõe aos seus fins ou impede seus propósitos, escreveu o jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, autor de um livro sobre o jornalismo e as dificuldades para exercer com correção e eficiência essa profissão: O Pianista no Bordel. O título usa a ironia de um ditado espanhol: “Não digam a minha mãe que sou jornalista, prefiro que continue pensando que toco piano num bordel”. Cebrián é diretor-fundador do El País, que começou a circular em 1976, durante a transição da Espanha, da ditadura de Franco para a democracia, e um dos administradores do francês Le Monde. Os dois jornais, desde sempre, se tornaram referências na busca da isenção e na despreocupação em desagradar aos personagens de suas notícias e reportagens. Ninguém escapa, constata o autor com certa amargura: “Literatos, intelectuais e também muitos renomados jornalistas, depois de exaltar as sublimes funções dos jornais, acabaram por abominá-los”. O exemplo do grande Balzac é sugestivo: quando era elogiado, adorava os jornais; mas, quando recebeu críticas, mudou de lado e escreveu: “Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”.
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