A
DIVINA COMÉDIA MODERNA
Dante Alighieri, poeta italiano, nos brindou
com uma obra épica, chamada “A divina Comédia”, que, segundo historiadores, foi
concebida entre os anos de 1304 a 1321, constituída de três livros: Inferno,
purgatório e paraíso.
O livro mais lido, lógico, “inferno”, pelos
horrores, dor e sofrimento que retrata, – e por isto aguça a curiosidade das
pessoas, e certamente seus temores - afastava a imagem comum do
inferno ser um único lugar, formado por um único plano, tomado pelas chamas,
cheirando a enxofre, e habitado por diabos, liderados por lúcifer, que impunham
suplícios aos pecadores em um mar de lava; substituindo-a por um espaço formado
por nove círculos, batizados conforme a elevação em que estavam – eis a razão
do aforisma: “vá para o quinto dos infernos” – cada qual recebendo almas de
acordos com os pecados cometidos. E, observando o princípio da proporção (algo
que existiu até na obra de Dante, no século XIV, mas inexiste na legislação
penal brasileira), a cada pecador eram infligidos castigos relacionados
com o pecado que cometeu. Desta feita o primeiro círculo, o limbo, recepcionava
os virtuosos pagãos; o segundo círculo, o vale dos ventos, abrigava os
luxuriosos; o terceiro círculo, o lago de lama, destinava-se ao gulosos; o quarto
círculo, as colinas de rochas, era o desígnio dos gananciosos; o quinto círculo,
o Rio Estige, acolhia os irados e furiosos; o sexto círculo, a Cidade de
Dite/Dis, segregava os hereges; o sétimo círculo, o Vale do Flegetonte, servia
para os violentos; o oitavo círculo, o Malebolge, servia para os fraudulentos e
corruptos; por fim, o nono círculo, lago Cocite, aos traidores.
Discussões afloram a respeito da obra
Dantesca, mas, creio, uma conclusão é definitiva: A Igreja, a época pós obra, antes do evento histórico denominado Reforma,
portanto a católica, teve seus fiéis multiplicados, pois estes ao conhecerem,
pela leitura da “Divina Comédia, o quão horroroso e capaz de impingir dor, pranto e ranger de
dentes aos pecadores poderia ser o “inferno dantesco”, buscaram a proteção e o
perdão oferecido pelos homens de Deus, e as respostas que pela fé evitariam os
terríveis castigos que o inferno impingiria aos pecadores.
Em meus pensamentos, as vezes ao desvario da
imaginação fértil e da criatividade, me permiti criar uma analogia da obra de
Dante com o momento contemporâneo no Brasil, mas, claro, uma ficção, nada mais
que isto, mas vejamos: Neste Brasil ficcional, os governantes mostrariam aos
seus governados horrores, dor e sofrimento que poderiam advir (os infernos em
vida), caso eles optassem por mudanças. Estes horrores seriam a miséria e a
fome; e o retorno a escravidão, submetidos a senhores maldosos e exploradores
do seu trabalho. Assim como a Igreja, nos tempos Dantescos, o mais interessante
neste processo é eternizar o temor dos prováveis suplícios, e como aconteceu
naquele filme, “O nome da Rosa”, o temor há que se manter pela deseducação e
pela desinformação, mesmo que para isto tenha que se queimar livros, e mais,
pelo maniqueísmo, necessário se engendrar um inimigo - assim como o bem combate
o mal, o camponês combateu o senhor feudal - o trabalhador terá que combater o
burguês, a polícia combateria os direitos humanos, o capital combateria a
democracia, a oposição combateria a situação, e etc, e a tensão, perene, alimentaria
o temor da escravidão e da aproximação ao portal do inferno, ou dos infernos.
Minha aflição e temor, que não é o de descer a
um dos círculos do inferno, e porque o inferno de Dante é temido até hoje, é
por não saber dizer quantos anos perdurará o temor do inferno institucional.
Meu consolo, se é que pode existir um, é que
- ao contrário do que muitas vezes fazemos ao mandar os políticos corruptos
para o quinto dos infernos - é que – a justiça dos homens poderá falhar, mas a
justiça divina não - eles irão sofrer os
piores dos suplícios no oitavo dos infernos, com seus corpos submersos em breu fervente
em uma das valas malditas do malebolge, acossados pelos diabos de lúcifer. Como
a grande maioria dos políticos brasileiros professa alguma fé, recomendo que os
eleitores enviem para eles exemplares do primeiro livro de Dante (“Inferno”),
ressaltando, claro, os castigos impingidos aos políticos corruptos nas valas do
oitavo dos infernos.
Quem sabe o temor faça os políticos corruptos
recuarem, mas se o obra dantesca não funcionar, ou não quisermos esperar pela
justiça divina, além morte, que façamos manifestações e passeatas exigindo
mudanças, mormente a impunidade dos corruptos, e transformemos a vida de maus
políticos e mau governantes num verdadeiro inferno de Dante, pois afinal de
contas, por nossa voz em uníssono contra suas omissões e ações
perniciosas, prejudiciais a população, poderemos indicar qualquer um dos nove
círculos infernais para eles, preferencialmente o oitavo dos infernos que é
destinado aos corruptos e fraudadores, mas como já estamos acostumados com o
senso comum, poderemos mandá-los para o quinto dos infernos sem nenhum
problema, pois mesmo lá, para baixo, em direção ao oitavo círculo, qualquer
diabo ajuda.
Um abraço dantesco
Ronie de Oliveira Coimbra
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