POR LIVRE E ESPONTÂNEA PRESSÃO
Depois de testemunharem nos últimos 18 dias
cenas de indignação popular raras vezes ocorridas na longa e conturbada
história do país, os brasileiros assistem ao que parecia pertencer ao reino da
fantasia: numa jornada laboral que se iniciou na tarde de terça-feira e só
terminou na madrugada de ontem, os deputados federais rejeitaram a proposta de
emenda constitucional que limitava o poder de investigação do Ministério
Público, a chamada PEC nº 37. Também aprovaram a destinação de 75% dos
royalties de petróleo à educação pública, com prioridade para a educação
básica, e à saúde, e a destinação de R$ 3,9 bilhões para atender atingidos pela
seca. Como se não bastasse, rejeitaram a destinação de R$ 43 milhões ao
Ministério das Comunicações para contratação de serviços durante a Copa das
Confederações e a Copa do Mundo de 2014. Finalmente, aprovaram novas regras
para a distribuição do Fundo de Participação dos Estados, evitando perdas na
distribuição de recursos.
O projeto do Regime Especial do Transporte
Coletivo tramitava havia 10 anos no Congresso. Em apenas dois dias, foi
aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado
e pelo plenário da Câmara. Qualquer cidadão, ainda que a bordo de sapatos que
jamais tenham tocado os carpetes do Congresso, é capaz de entender que essa
atividade frenética é resultante da pressão das ruas.
Têm razão os que afirmam que os parlamentares
atendem ao clamor da mobilização popular. E ainda mais razão os que lembram que,
nessa relação de causa e efeito, a iniciativa coube ao povo, cansado da
acomodação e da inoperância de seus representantes. Muito se tem falado a
respeito da imaturidade política do brasileiro, do qual já se disse até mesmo
que não sabia votar. É hora de afirmar que as manifestações de milhões de
homens e mulheres, crianças e idosos, de todos os segmentos da sociedade, nos
últimos dias, exibiram uma visão que se pode definir como sofisticada se
comparada à de nossa elite política reunida no Congresso. Foram eles, os que
foram à rua, os agentes da verdadeira transfiguração no comportamento dos
parlamentares. Que isso sirva de alerta a personagens como o deputado Marco
Feliciano (PSC-SP), um dos patrocinadores do despropositado projeto da “cura
gay”, também repudiado nos protestos. Não há sentido em que, diante de tanta
rejeição, ele continue aferrado à presidência da Comissão de Direitos Humanos.
Àqueles que procuram proteger o Congresso da
justa crítica emanada de todos os recantos do país, é oportuno citar o
parágrafo único do primeiro artigo da Carta Magna: “Todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição”. Que os brasileiros não descuidem, portanto, de exercer o
poder nas distintas formas previstas na Constituição e não se furtem a
fiscalizar e pressionar seus representantes quando necessário, como vêm fazendo
nos últimos dias.
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