Uma executiva da Korean Air está presa desde o dia 30 de dezembro de 2014, e está sendo processada por descumprir as leis da aviação do País, depois de provocar atraso em um voo por estar insatisfeita com a forma como salgadinhos lhe foram servidos. Cho Hyun-ah, vice-presidente da companhia aérea e filha do presidente da empresa, ficou furiosa porque o tripulante serviu nozes no pacote e não em um prato. Ela então exigiu que o funcionário fosse retirado do voo, obrigando a aeronave a voltar ao terminal.
A atitude da executiva aflorou reações de zombaria, indignação e vergonha no povo koreano.
Aliás, no Brasil, recordo de uma então Ministra que atrasou um voo pois não queria se submeter a revista de bagagem, prática que no entendimento dela somente valia para os “mortais”, não para ela, “autoridade” que deve estar acima destas admoestações terrenas. Recordo também do General, então Comandante do Exército, que determinou que um avião da TAM, que já estava taxiando, retornasse para que ele e sua mulher, que estavam atrasados, embarcassem. Tem mais: O Juiz que deu voz de prisão a três funcionários da TAM que impediram que ele embarcasse no voo por estar atrasado.
Vamos ficar nestes três exemplos, eis que se discorrer sobre outros o texto ficará muito extenso.
O QUE ACONTECEU COM ESTAS AUTORIDADES BRASILEIRAS que desrespeitaram as Leis da Aviação Brasileira? O que elas têm de diferente da executiva Koreana?
Quanto a primeira pergunta, respondo, com muitas garantias, que não aconteceu com elas absolutamente nada.
Quanto a segunda indagação posso oferecer três respostas, claro, de minha convicção: Primeiro que elas estão no Brasil, e acham que podem fazer o que fizeram; segundo que elas têm a convicção de que sairão impunes, isto, também, por que estão no Brasil; e, por fim, por que sabem que o povo brasileiro não irá se indignar e se envergonhar, por conseguinte não reagirá.
Certa feita, em algum lugar do planeta, cerca de cem escravos eram açoitados por somente um feitor, desprovido de qualquer arma, eis que somente portava o chicote que afligia os escravizados. Uma entidade divina olhava aquela cena e se indagava: Por que os escravos não reagem? Estão em maior número; e o feitor não tem nenhuma arma para se defender, no entanto se submetem ao açoite e a escravidão.
Este ente concluiu que a escravidão se dava na mente dos escravos. Ignoravam sua força, ignoravam que podiam ser livres se quisessem, ignoravam que poderiam, coletivamente, por fim ao suplício, dominar o feitor, e fugirem dali.
Perdoem-me a franqueza, mas não tenho como não fazer uma comparação destes escravos com muitos brasileiros que deixam que uma parcela ínfima de autoridades faça o que bem entende neste País, cometendo desmandos e mais desmandos, e permanecem letárgicos, inertes, sem nenhuma reação, sem nenhuma indignação.
Concluo que não existe mais aquela escravidão tradicional aqui no Brasil, com grilhões e acoites, mas, existe uma escravidão moderna, em que as pessoas deixam se dominar pela ignorância, pelo egoísmo, pelo comodismo, e se submetem ao açoite, não com o chicote, mas com atos como os das autoridades que citei acima que desrespeitaram regras da aviação, com o auxílio-moradia para Juízes que possuem casa, para as benesses dos parlamentares, para as imunidades, para os gastos secretos dos cartões corporativos do governo, para as gratificações de 14 e 15 salários dos parlamentares gaúchos, com o pagamento do aumento de combustíveis para que a PETROBRÁS faça caixa para cobrir o rombo da corrupção, com o aumento de impostos para que o governo perdulário cubra o rombo que causou por gastar mais que arrecadou, com a impunidade de bandidos, inclusive os de colarinho branco, com o desrespeito com o erário e com a coisa pública por parte daqueles que deveriam exatamente zelar pelo uso austero destes, para a soltura de assassinos confessos com o magistrado alegando que eles não oferecem risco a sociedade, para a progressão de regime dos presos, mesmo para homicidas, latrocidas, estupradores, assaltantes, dentre tantas outras...
LIBERTEMO-NOS DA ESCRAVIDÃO, eis que “Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo.”
*Major da Brigada Militar do RS