À beira da estrada, uma mulher idosa vendia
pinhão. Parei o carro e comprei. Os pinhões vieram acondicionados num jornal
velho do primeiro semestre deste ano. Li a notícia alvissareira, que dizia
terem se reduzido em 3,5% os homicídios dolosos no Rio Grande do Sul. No
primeiro trimestre de 2013, foram apenas 490. Um pouco menos do que o número de
homicídios ocorridos no Japão em todo o ano de 2012, isto é, 506.
Cada ano que passa, as autoridades de
segurança se esmeram em tentar reduzir a criminalidade, que cresce cada vez
mais. Não lembram de tornar a lei penal mais severa, mais intimidativa aos
criminosos, mais segura para a esmagadora maioria da sociedade, que quer
trabalhar, quer viver momentos de lazer com sua família.
O Brasil é um campeão de criminalidade, com
mais de 20 homicídios dolosos por 100 mil habitantes. Eu sei que há outros
paraísos para os criminosos, até com maior grau de violência, como Porto Rico,
Venezuela, África do Sul, além de outros muito pouco visitados. Torna-se
importante lembrarmos, no entanto, que há exemplos que deveríamos seguir. É o
caso da Argentina, que na última contagem apresentou uma estatística de pouco
mais de 1,3 mil homicídios dolosos, contrastando com os mais de 40 mil anuais
ostentados pelo Brasil. É claro que é um sonho distante chegar a números
semelhantes à Noruega, 0,6 homicídio por 100 mil habitantes. Mas pelo menos
poderíamos reduzir a intensa criminalidade brasileira. Daqui a quatro ou cinco
anos, pode ser tarde demais e as pessoas de bem sairão às ruas exigindo o
direito à segurança, obrigando os governantes a buscar medidas extremas, como
pena de morte para traficantes de drogas e responsabilidade objetiva em matéria
de homicídio.
Um político ilustre, que anos antes fora
juiz, disse certa vez que, se fosse fechada a Justiça Criminal no Rio Grande do
Sul, pouca diferença faria. Estima-se que hoje um pequeníssimo percentual dos
crimes seja punido. Muitas pessoas nem dão queixa à polícia, descrentes da
punição. Inúmeros fatos os promotores não conseguem denunciar, pela insegurança
das provas colhidas. Dos que são denunciados, a maioria resulta em absolvição,
quase sempre por falta de provas, já que a prova produzida anos depois é falha.
As testemunhas tendem a arrepender-se de ter dito a verdade perante a polícia,
não raro oferecendo outra versão em juízo, uma vez que o criminoso, no Brasil,
tem mais poder de coação do que o Estado. Só a significativa redução da
criminalidade dará à polícia condições de dedicar tempo suficiente à elucidação
de um fato criminoso. Um policial brasileiro tem cinco vezes mais fatos para
resolver do que um policial argentino. Pela mesma circunstância, julga-se
melhor na Argentina do que no Brasil. Só a punição severa reduzirá a
criminalidade. Aqui no Brasil, os condenados são logo postos em liberdade,
ganhando sensação de impunidade e estímulo à prática de novos crimes,
beneficiados pelo ledo engano da fácil recuperação.
É preciso que a criminalidade seja tratada
com mais seriedade, sem que os agentes políticos que tratam do assunto estejam
preocupados com o brilho dos holofotes, e passem a pensar na possibilidade de
tentar a via dolorosa do rigorismo penal, já que outras medidas não vêm dando
certo há 50 anos.
* Gaspar Marques Batista é Desembargador.
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