TRABALHO SUSPEITO
Editorial – Zero Hora de 23 de setembro de 2013.
Além da Polícia Federal, do Ministério
Público e da Justiça, também o governo deve fazer a sua parte para que o
Ministério do Trabalho deixe de ser o feudo dos desmandos que se repetem nos
últimos anos. As irregularidades praticadas e acobertadas pela cúpula do
ministério exigem, depois dos indícios levantados pela PF e pela
Controladoria-Geral da União, uma intervenção decidida da presidente Dilma
Rousseff. O Trabalho é um reduto loteado pelo PDT desde 2007 e, segundo os
órgãos controladores oficiais, vem atuando à revelia das normas éticas
estabelecidas pelo próprio governo e pelos órgãos reguladores. As investigações
conduzidas neste mês pela polícia apenas comprovam que a pasta manipulada por
ONGs continua sob o controle dos mesmos políticos que, em 2011, cometeram
delitos graves, envolvendo o desvio de recursos públicos.
Há dois anos, denúncias baseadas em fatos
semelhantes provocaram a renúncia do ministro Carlos Lupi. O ministério foi
então entregue a um pedetista sem alinhamento político com o antecessor.
Brizola Neto, o substituto, resistiu por pouco tempo no cargo. O mesmo Carlos
Lupi, na condição de líder do partido, voltou a agir e impôs ao governo um nome
da sua confiança. Manoel Dias, também dirigente do PDT, assumiu então o comando
da pasta, mantendo, pelo que a PF apurou até agora, toda a estrutura de
favorecimento a ONGs, que pode ter movimentado mais de R$ 400 milhões. Conforme
revelações da Controladoria-Geral, o Ministério foi alertado várias vezes de
que organizações suspeitas recebiam verbas milionárias, sem que nenhuma
advertência tenha surtido efeito.
O que se constata, depois do que ocorreu há
dois anos, é que os dirigentes do ministério nunca se preocuparam com a
eventual identificação dos responsáveis pelos crimes. Todos agiam no Trabalho
com desenvoltura, como se, mesmo com antecedentes, aliados do Planalto
contassem com imunidade. Esse comportamento acintoso impressionou até mesmo o
ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, segundo o qual a pasta sob o comando de Dias
chegou a uma situação extrema em termos de descontrole nas suas relações com as
ONGs e total desrespeito às recomendações da Controladoria e às normas de
conduta no setor público. As entidades, na definição de Hage, são ONGs
“carimbadas”, ou seja, conhecidas dos organismos de fiscalização pela
insistência com que desafiam as leis.
São figuras carimbadas também os envolvidos
nas fraudes, que operavam as transferências e delas se beneficiavam, na
partilha dos recursos absorvidos pelas ONGs. A maior lição do descalabro que se
perpetua no Trabalho é a de que espaços públicos tomados por beneficiários de
trocas políticas sempre serão vulneráveis. A pasta sob suspeita – e outras já
investigadas tantas vezes – são feudos em que o compadrio está sempre acima da
competência e da decência.
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