A
BUSCA DESESPERADA POR CULPADOS
Basta
que ocorra um evento de proporções, em qualquer torrão do Brasil, para que a
voracidade midiática passe a buscar culpados, ou apontar erros nos
procedimentos que foram adotados pelos profissionais capacitados para solucionar
o grave problema que se apresentou, e tudo o mais perde importância.
Analisem
o incêndio que ocorreu no Mercado Público de Porto Alegre, pois os Bombeiros,
literalmente no calor do evento, no labor para conter as chamas, já recebiam
críticas quanto a capacidade de seus equipamentos, e já se apontavam defeitos no
funcionamento dos hidrantes situados no entorno do prédio em chamas.
Não
ouvi, por parte dos jornalistas que cobriam o episódio, elogios pelos esforços
dos profissionais para conter o incêndio, cujas labaredas resistiram por mais
de duas horas até que fossem extintas, ou incentivos para que o trabalho deles
fosse rapidamente concluso, não obstante as dificuldades dos Bombeiros. Ao
contrário, eis que em uma ânsia psicodélica na busca do erro e da distorção,
veiculavam nas redes sociais até o simples pedido de empréstimo de um celular
por um bombeiro, como se fosse uma deficiência insuperável da Corporação, e já
indagavam às autoridades se o Mercado possuía plano de prevenção e combate a
incêndio, o famoso e aludido PPCI, e
equipamentos adequados, a exemplo de extintores, para demandarem sinistros,
isto, bem antes do combate ao incêndio terminar, portanto, a preocupação da
imprensa, em sua maioria, não era cumprir seu papel social de informar sobre o incêndio e o risco que dele decorria, e sim a de
imediatamente encontrar supostos culpados por ele ter acontecido.
Culturalmente,
de forma geral, nos comportamos assim. Não elegemos como mais importante o
acerto, os esforços para resolver o problema, preferimos evidenciar o erro, a
defecção, em uma apologia utópica da perfeição e da infalibilidade, coisas que
não nos pertencem, e aqui está o que penso ser a questão central do meu
raciocínio: procuramos sempre o culpado, e claro, quando acontece o desastre, o
acidente, o sinistro, a culpa sempre será de outro alguém, jamais cogitarei que
a culpa possa estar sob minha alçada, e, alinhada a esta forma de pensar, o
desdém por tudo que já foi bem feito,
como se fosse invisível ao nosso olhar.
Assoma
a tudo isto outra linha de pensamento do senso comum que julgo equivocada: a de
que o Estado, em todas as suas instâncias (municipal, estadual e federal), é o
responsável para resolver os problemas de todos; e teria que ter as capacidades
divinas da onisciência e da onipresença, e mais ainda, a capacidade de
profetizar os acontecimentos, em todos os lugares, em todos os momentos. Ora, o
Estado é uma abstração, e, segundo o conceito clássico, é composto por
território, governo soberano e povo, estes dois últimos integrados por pessoas,
todas, e reputo, TODAS, responsáveis pelo bem comum.
Não
quero dizer que o Estado, por seus poderes executivos, não tenha sua parcela de
responsabilidade, e deve-se sim exigir reparos e culpabilidade por suas
omissões e ações deletérias a sociedade, inclusive exigir que disponibilize
recursos materiais e humanos qualificados para as Instituições que prestam
serviços públicos aos cidadãos, principalmente aquelas que cuidam da vida, da
segurança, da educação e da saúde das pessoas, mas querer que, como leviatã,
seja o monstro que domina a todos e a tudo, é um exagero absurdo, eis que o
povo integra o Estado, e os cidadão devem erradicar seus comportamentos
omissos, de conviverem com erros e equívocos, como se invisíveis fossem, e nada
fazem, não reclamam, não denunciam, não apontam, e, quando ocorre o problema se
enveredam na busca desvairada de culpados, e quando, supostamente os encontram,
os apontam, sem dó nem piedade, pois afinal de contas o problema não é meu, e
sim, e somente, do outro, e melhor que
seja do “Estado”, este “Ente divino” que deveria nos prover e proteger de tudo.
Neste
diapasão a necessidade de representação de uma coletividade ou comunidade faz
emergir as associações, e estas, recorrentemente, focam na exigência de
direitos. Na minha opinião a existência delas é muito benéfica, e que continuem assim, mas que também foquem nos
deveres das pessoas e atuem proativamente, que recomendem que as pessoas possam
“perder” (ganhar) tempo em simulações de evacuação de prédios (exijam que as
edificações que abriguem muitas pessoas, a exemplo de escolas, casas de shows,
estádios de futebol, prédios públicos, etc., tenham um plano de evacuação)em caso de
sinistros, que se disponibilizem a manipular e aprender a utilizar os
equipamentos para combate a incêndios, basicamente quando de seu início, para
evitar que se propagem, até mesmo porque se fala tanto que as edificações
tenham extintores, saídas de emergência, mas pergunto: As pessoas sabem
manipular e utilizar os extintores? Estão aptas a deixarem o prédio da forma mais
organizada possível no caso de sinistro? Elas se preocupam com isto? Elas
observam, identificam e apontam as defecções e irregularidades? Ou pelo menos
aqueles que as representam realizam isto?
Creio,
a mercê do reparo de outros posicionamentos, que aqui está um bom tema de
discussão, eis que a cultura de privilegiar a busca por culpados, em detrimento
da resolução do problema; de ressaltar o erro e a defecção em detrimento do
que se faz de bom e dos acertos, imensamente maiores que os erros, tem que ser
repensada. Claro que a busca legitima de responsáveis é saudável, mas sem este
atropelo, sem este desvario, sem esta concentração de energia, sem este foco absorto,
ou seja, com equilíbrio e com serenidade, e, que assumamos nossas
responsabilidades também, porque afinal de contas o problema é de todos nós,
quer queiramos ou não.
Ronie de Oliveira Coimbra
Major da Brigada Militar
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