Parece que o Congresso Nacional só funciona sob pressão. Após a repercussão negativa da derrubada do projeto que vetava a eleição de suplentes com parentesco até segundo grau dos titulares, o Senado voltou atrás ontem e aprovou a medida moralizadora. Mantém, assim, a chamada agenda positiva, elaborada para responder à pressão das ruas e recuperar a desgastada imagem dos políticos percebida pela sociedade. No mesmo dia em que a Câmara rejeitou a possibilidade de um plebiscito para discutir uma reforma política com efeito nas eleições do ano que vem, como pretendia a presidente Dilma Rousseff, o Senado tinha rejeitado uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) há muito tempo cobrada pelos brasileiros. A iniciativa acabava com a figura do segundo suplente de senador e ainda proibia que o primeiro tivesse parentesco até segundo grau com o titular da vaga. A decisão de engavetar a medida fora tomada com o aval de muitos desses suplentes que, mesmo sem contar com um único voto, passam a gozar de todos os privilégios quando assumem o cargo de senador. Ontem tudo mudou: numa manobra articulada por líderes de todos os partidos, a proposta foi aprovada por 64 votos favoráveis e apenas um contrário.
No caso do plebiscito, era natural que a decisão precipitada do Planalto, de interesse maior do PT, fosse sepultada. Mas a criação pela Câmara de um grupo de trabalho para elaborar sugestões de temas da reforma política em até 90 dias é típica do que costuma ocorrer quando deputados e senadores podem até fazer um discurso diferente para o público externo, mas, no fundo, pretendem mesmo é deixar tudo como está, pois lhes convém.
A volta atrás de ontem, porém, demonstra que os cidadãos têm que continuar vigilantes para não deixar que os parlamentares voltem a se acomodar.
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