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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Verdadezinhas incômodas - Editorial de ZH comentando sobre declarações do Ministro Joaquim Barbosa, do STF.


Zero Hora - 26 de maio de 2013
EDITORIAL INTERATIVO
VERDADEZINHAS INCÔMODAS

    Ao disparar, na última terça-feira, mais uma rajada de sua metralhadora verbal, o ministro Joaquim Barbosa atingiu em cheio o Congresso Nacional e colateralmente os partidos políticos. As observações do presidente do Supremo Tribunal Federal causaram indignação de parlamentares e lideranças partidárias, mas arrancaram sorrisos irônicos de concordância da maioria dos cidadãos. O que disse o magistrado? Que o Congresso é dominado pelo Executivo e não exerce em sua plenitude a prerrogativa que a Constituição lhe atribui, que é o poder de legislar. Disse também que o país tem partidos de mentirinha e que os brasileiros não se identificam com as legendas que os representam no Congresso, a não ser em casos excepcionais, por não verem consistência ideológica e programática em nenhuma das agremiações.

     Se considerarmos sua condição de chefe de um dos poderes da República, talvez o ministro Joaquim Barbosa não devesse ter dito publicamente o que disse na palestra para estudantes de uma universidade de Brasília. Com sua reconhecida (e temida) franqueza, ele criou um atrito desnecessário com o parlamento e estimulou o sentimento de rejeição às agremiações políticas, o que não chega a ser saudável numa democracia. Mas é inquestionável que falou a verdade: o Congresso tem demonstrado excessiva submissão ao Executivo, e os partidos políticos, com raríssimas exceções, têm pouco crédito com a população.

    Todos sabemos que é fácil bater no Legislativo, por ser o poder mais exposto e mais vulnerável a críticas. O espancamento pode até ser merecido em muitos casos, mas sempre é bom lembrar que o parlamento representa, sim, a vontade dos cidadãos, que a cada quatro anos têm a oportunidade de renovar suas escolhas – diferentemente dos ministros do Supremo, que são escolhidos pelo presidente da República. Já dos partidos políticos não se pode dizer o mesmo: são tantas as siglas e tão confusos seus programas, que muitos brasileiros nem sequer sabem a quais legendas pertencem os candidatos propostos. A maioria das pessoas não se sente mesmo representada no espectro partidário atual. Mesmo as agremiações de linha programática mais definida costumam renunciar a seus compromissos quando assumem o poder, muitas vezes estabelecendo alianças com antigos adversários, sob o pretexto de garantir a governabilidade. Essa estratégia passa ao cidadão a percepção de que todos são iguais.

    Não se pode querer que os partidos políticos briguem entre si o tempo todo, sem transigir nem formar alianças em nome do interesse público. Mas é imprescindível que tenham identidade própria e que se comprometam com ideias e projetos para conquistar a confiança do eleitorado. Enquanto houver siglas de aluguel, formadas apenas para viver à sombra do poder ou para negociar prerrogativas, o povo terá motivos para desconfiar – e a crítica do ministro Joaquim Barbosa receberá total aprovação.

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