Em uma manhã de domingo, eu estava na fila do caixa de um grande supermercado em minha cidade, aguardando o momento de ser atendida, eis que se aproxima um senhor, um senhor mesmo, com quase 60 anos, e aquieta-se atrás de mim, aguardando, também, a sua vez. Enquanto distraidamente eu folheava uma revista, escuto a voz serena da senhorita do caixa informando que aquele espaço de pagamento restringia-se apenas para compras de até 15 itens, meus olhos assustados fitaram-na de imediato, porém, aliviados, observaram que o alerta dirigia-se não a mim, mas ao senhor que estava logo atrás.
O homem que já apresentava semblante sisudo, ao ouvir a senhorita do caixa falar, franziu a testa alcançando o olhar e retrucou dizendo em alto tom: “Você não vê que não há mais de 15 volumes neste carrinho?” A esposa que o acompanhava permaneceu inerte.
Sinceramente, até o mais míope dos míopes constataria que não só havia mais de 15 itens no interior daquele carrinho, como a fisionomia do senhor tomava ares de ira. Inquieto, ele permaneceu no mesmo lugar, dando de ombros a funcionária, enquanto a esposa retirava-se desconcertada de perto. Nesse momento, dei por mim que aquele diálogo havia finalizado, pois não haveria por parte daquela moça, aparentemente calma, coragem para sobrepor-se à expressão arrogante daquele cliente que logo lançaria mão a sua credencial de senilidade, como amparo ao destrato às normas vigentes, ali personificadas pela funcionária do mercado. No entanto, para minha satisfação, ela o olhou, e, com ânimo, disse-lhe: “Senhor, nesse caixa as suas compras não poderão ser pagas”. Meu contentamento fazia-me cócegas, eu sorria incontidamente por dentro, senti-me em êxtase. O senhor mais uma vez munido de sua peculiar arrogância, talvez, por ter sido tratado igual aos demais, como um pobre mortal, exigiu o nome da funcionária para possivelmente registrar uma reclamação, ou, quiçá, na irrealidade de seu infundado pensamento, lavrar auto de uma infração ainda não tipificada em nossa legislação. De pronto, a senhorita do caixa levou as mãos ao seu crachá e o expôs, vaidosamente, ao tempo em que verbalizava a sua graça. Sem mais palavras o homem retirou-se, levando consigo o seu carrinho repleto de empáfia.
A moça do caixa que de uma maneira sutil, serena, elegante, austera, se mostrou corajosamente justa na condução do seu ofício, chama-se Francisca, e mesmo diante da fala de um magnata da falta de educação, Francisca vestiu-se de sensibilidade e percebeu que a arrogância daquele homem nada mais é do que a fusão de suas inseguranças pessoais, demonstradas em atitudes e palavras.
Meus aplausos para você Francisca!
Abril de 2015
*Capitã na Polícia Militar do Ceará
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