“Em pleno calor do dia, um pai andava pelas
poeirentas ruas de Keshan junto com seu filho e um jumento. O pai estava
sentado no animal, enquanto o filho o conduzia, puxando a montaria com uma
corda. “Pobre criança!”, exclamou um passante, “suas perninhas curtas precisam
esforçar-se para não ficar para trás do jumento”. “Como pode aquele homem ficar
ali sentado tão calmamente sobre a montaria, ao ver que o menino está virando
um farrapo de tanto correr”. O pai tomou a sério esta observação, desmontou do
jumento na esquina seguinte e colocou o rapaz sobre a sela. Porém não passou
muito tempo até que outro passante erguesse a voz para dizer: “Que desgraça! O
pequeno fedelho lá vai sentado como um sultão, enquanto seu velho pai corre ao
lado”. Esse comentário muito magoou o rapaz, e ele pediu ao pai que montasse
também no burro, às suas costas. “Já se viu coisa como essa?”, resmungou uma
mulher usando véu. “Tamanha crueldade para com os animais!” “O lombo do pobre
jumento está vergado, e aquele velho que para nada serve e seu filho,
abancaram-se como se o animal fosse um divã, pobre criatura!” Os dois alvos
dessa amarga crítica entreolharam-se e, sem dizer uma palavra, desmontaram. Entretanto
mal tinham andado alguns passos quando outro estranho fez troça deles ao dizer:
“Graças a Deus que eu não sou tão bobo assim!” “Por que vocês dois conduzem
esse jumento se ele não lhes presta serviço algum, se ele nem mesmo serve de
montaria para um de vocês?” O pai colocou um punhado de palha na boca do
jumento e pôs a mão sobre o ombro do filho e disse: “Independente do que
fizermos, sempre há alguém que discorda de nossa ação. Acho que nós mesmos
precisamos determinar o que é correto”.
Hoje me valho da parábola acima para asseverar
que o Policial Militar, por mais que se esforce na prestação de seus serviços a
sociedade, nunca conseguirá agradar a todos. Embora o brigadiano atue em muitas
ocorrências assistenciais ou de orientação e auxílio às pessoas, as demais, em
esmagadora maioria, envolvem o conflito. Ou a pessoa está em conflito com
outrem, e requer a mediação do policial, ou ela está em conflito com a Lei, e
requer a ação legal do policial. Em quaisquer das situações alguém restará
desconforme, julgando-se prejudicado, mesmo que o policial aja em estrito
cumprimento do que determina a lei, a moral e os costumes.
Arremato este pequeno ensaio para dizer que o
policial não deve se frustrar com isto, pois a sua ação precisa estar revestida
de legalidade, imparcialidade e impessoalidade, e nem julgar que o seu trabalho
não é reconhecido, ao contrário, a necessidade da existência da polícia e de
seus profissionais restou, há muito, comprovada, mas, como nos ensina a
parábola, vinda de tempos primordiais, “Independente do que fizermos, sempre há
alguém que discorda de nossa ação”, ou então, parafraseando Jean Jacques
Rousseau: “ Quem quer agradar a todos não agrada a ninguém.”
Abraços.
Major Ronie de
Oliveira Coimbra
Cmt da Brigada
Militar de Sapucaia do Sul
Muito bom Major... Sábias palavras...
ResponderExcluirObrigado pelo registro Luiz...Penso ser a mais pura realidade. Abraço.
ExcluirBelas palavras comandante! muito bem colocado, essa conjugação com essa conhecida parábola relata a mais pura realidade brigadiana, sempre está sendo alvo de críticas. Sábias palavras. Abraço, Zazycki.
ResponderExcluirFato comandante! Valores como probiedade e civismo estão cada vez mais escassos em nossa sociedade. Seguimos em nossa "luta" diária, fizemos a nossa parte e quem sabe um dia possamos resgatar e/ou inculcar em nossa sociedade esses valores essenciais. Abraço fraterno, Zazycki.
ExcluirObrigado caro colega Zazycki...E escrevestes muito bem em dizer que a parábola reflete a realidade brigadiana, que, muito embora faça seu trabalho, e vá além de suas obrigações, sempre é alvo de críticas. Não que sejamos refratários a críticas, algumas até são justas, mas a grande maioria decorre de pessoalismos e casuísmos. Abração
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