O governo gaúcho assina embaixo, definitivamente, da sua incompetência em gerenciar tempos e situações de crise. Não bastasse o escárnio em infelizes manifestações, ou o parcelamento desumano (acima de tudo) e ilegal de salários, agora vem esta famigerada PEC 251 ameaçar o funcionalismo público estadual, civil e militar. E as ameaças chegam justo num momento em que o Estado só funciona graças à dedicação da maioria dos seus servidores, pois as condições de trabalho, principalmente nas áreas da segurança pública e da educação, andam por demais comprometidas pela falta de recursos humanos e materiais. Quando deveriam injetar ânimo para (pelo menos tentar) reverter o quadro, os cérebros gestores dão mais puxada de tapete em quem deveriam incentivar. Mas bah!
O que o governo quer, com esta PEC 251, é aumentar o tempo de serviço, acabar com averbações e, o mais cruel de todos os aspectos, dar um fim na paridade de vencimentos entre inativos e ativos. Isto é o que garante a presumida decência na aposentadoria dos nossos servidores. Digo presumida, sim, porque há categorias que passam a vida toda lutando por esta decência que nunca vem. Vide os professores. Vide os soldados da Brigada. Ou o caro leitor acha os salários deles, do jeito que estão, dignos? Se considerarmos a importância de seu trabalho junto à sociedade, se considerarmos quem de fato nos dá retorno imediato e aos impostos que pagamos (e como pagamos!), talvez alguém ache um assessor de coisa nenhuma, pendurado num político qualquer por aí, muito mais importante para a sociedade, e então que ele mereça mesmo ser muito melhor remunerado. Cada um tem a sua ótica.
Agora, é ridículo. O mesmo mal que assola milhões de trabalhadores brasileiros, que vivem reféns sob as mandíbulas do INSS, vendo sua vida inteira de contribuição se esfarelar com o tempo até o ponto de lhes garantir nada além de uma velhice indecente e mendiga – enquanto a mesma previdência do governo sofre achaques e desvios dos vampiros de sempre, assaltantes desta pobre população sem esperança – que se expandir. Virar regra. O que deveria ser mudado lá, e de forma urgente, agora servirá de exemplo aqui? Que afronta à cidadania! Por que trabalhamos, afinal, neste país? Para darmos a nossa contribuição, ou apenas para esperarmos o tempo de virarmos velhos mendigos? O que dizer aos jovens? Não trabalhem, entrem mesmo no mundo do crime?
Este país é composto por gestores públicos que não respeitam seu funcionalismo, não respeitam o idoso, não respeitam a cidadania. Se houvesse compromisso em reverter o caos que aí está, o primeiro incentivo deveria ser justamente aos que estão no epicentro do furacão: os servidores da educação e da segurança pública. Os que tomam providências contra os bandidos que estão por aí, a fazer farra com sangue inocente, e os que têm por missão despertar humanidade nas gerações que precisam, pelo amor de Deus!, não ser mais seduzidas e cooptadas pelo crime e pela violência. É preciso motivar estes profissionais para que trabalhem bem, cumpram seu papel, se dediquem e revertam a situação!
Mas não. Em vez disso, vem o medo, a incerteza, a ameaça.
Tenho certeza que os mentores deste absurdo não aguentariam um confronto sequer com bandidos nas ruas. Muito menos suportariam um dia em sala de aula numa escola pública. Só são bons em outras coisas, nada saudáveis para nós, povão.
Sabemos, todos, que há absurdos. Gente se locupletando, ganhando muito e trabalhando quase nada para a sociedade gaúcha, encastelada em Olimpos e de costas para os problemas do Estado, ou se lambuzando nas farras com verbas públicas que todos nós sabemos que acontecem. Mas eu garanto: estes, não são os professores que dão aulas em jornadas de 60 horas – manhã, tarde e noite -, em escolas quebradas e ameaçadas pelo tráfico de drogas, a suportar tudo isto só para ter um salário minimamente digno que possa pagar as suas contas básicas, que causam estes desvios. Nem são os policiais que estão nas ruas levando tiros de fuzis, ou os agentes penitenciários que ouvem todos os dias líderes de quadrilhas ameaçando mandar matar seus familiares dentro dos presídios, que promovem as “mamadas de teta” astronômicas no governo gaúcho. Não são as vítimas de roubo feridas ou mortas todos os dias que sonegam sua contribuição aos cofres públicos. Não são eles. Nem o povo, nem os servidores públicos que estão lá, diretamente com o cidadão, na linha de frente da vida. Mas eles é que são os alvos desta PEC 251.
Bom, todos nós votamos nalgum deputado estadual. Pegue o seu e se posicione. Cobre. E anote qual foi a posição dele sobre o tema. Tem mais eleição por aí, eles são nossos empregados – nós que pagamos tudo isto, repito o que já disse em tantas outras colunas – e sempre precisam de nós para continuar no emprego.