Há
muito que a polícia é considerada a panaceia (remédio para todas as coisas)
para os fenômenos da violência e da criminalidade, e, quando estes fenômenos
recrudescem, a cobrança por medidas, e a cobrança por respostas,
invariavelmente, tanto por parte da sociedade, quanto por parte dos governos,
recai sobre os organismos policiais, os quais devem, num exercício hercúleo de
gestão de recursos, senão mágico, oferecer soluções.
Diante do fato do feminicídio de uma mulher de
34 anos, morta a tiros pelo ex-companheiro no hospital de Venâncio Aires, no
Vale do Rio Pardo, depois de ter ido à polícia fazer queixa de ter sido
agredida e ser orientada a fazer antes o exame de corpo de delito, a autoridade
política da segurança pública do Estado do Rio Grande do Sul editou normas que
devem ser adotadas pelas polícias no atendimento de episódios de violência
contra mulheres.
Mas a resposta da polícia é suficiente para a
profilaxia da violência contra a mulher nas cidades gaúchas?
O
Ministério Público acompanhará os esforços da polícia, mantendo atendimento
diuturno para os encaminhamentos das demandas policiais em razão de eventos de
violência contra a mulher, no intuito de que a polícia militar não sofra
descontinuidade na prestação de seus serviços preventivos?
O
Judiciário será ágil e presente para que, igualmente ao item anterior, assegure
garantias e direitos para as mulheres vítimas de violência ou na iminência de
sofrê-la?
A
Legislação será rigorosa com o agressor que assombra a mulher ou que reiteradamente
descumpre medidas protetivas determinadas pelo Judiciário?
O
poder público competente oferecerá locais adequados, e suficientes para atender
a demanda, para que as mulheres em situação de risco sejam encaminhadas, com
ambientes protegidos e qualificados, tanto para ela, quanto para seus filhos, e
cuja recepção funcione “fora do horário comercial”, ou seja, 24 horas por dia,
todos os dias?
Algumas
pessoas erradicarão o pensamento de que “em briga de marido e mulher não se
mete a colher”? Calcadas neste dito popular, tornam a vítima invisível e seus
gritos inauditos, a exemplo da mulher que sofreu tentativa de estupro, há
poucos dias, no Parque da Redenção, em Porto Alegre, em pleno meio-dia, cujo
olhar de algumas “testemunhas” não passou da omissa contemplação.
Desmitificar-se-á
a criação do macho em muitos lares da sociedade gaúcha, em que o menino é criado
e empoderado como dominante, e a menina como subalterna? Meninos vão para o
quarto, ou para outro lugar brincar, os homens para a sala assistir televisão e conversar, às meninas e às mulheres cabem retirar a mesa e lavar a louça, somente para ficar
em um exemplo. Quando adultos esta condição hierárquica não será reproduzida?
Caso
isto, e muito mais, não aconteça, e a medida determinada as polícias seja
isolada, eu acredito, piamente, não obstante todos os esforços dos agentes
policiais, que mulheres vitimadas continuarão a ilustrar as manchetes dos
noticiários.
Não se
faz segurança pública sem polícia, mas não se faz somente com ela.
*Major na Brigada Militar do RS
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