As singelas conclusões que apresento decorrem de minhas
observações, do que acompanho, leio, vejo, ouço e debato, e, inexoravelmente, elas
sempre convergem para a conclusão de que a incoerência impera no pensamento político brasileiro.
É um desfile de rotos falando de esfarrapados; uma
desavergonhada prática de que quando se é pego em falcatruas, trata-se logo de
mostrar as falcatruas do adversário político, em uma desesperada apresentação
de justificativas, principalmente a de que “se o outro também faz, ou fez,
ameniza se faço também”.
Nestes idos, para se tornar inimigo político de
alguém, basta pensar diferente, mesmo que se pense certo. É proibido criticar,
mesmo que construtivamente, a ideologia de outrem, eis que é o suficiente para
ser alçado a “inimigo” político.
Exploram-se os erros do outro, ao invés de apresentar
suas virtudes; parte-se para uma desvairada prática de ser pedra, mas se
esquecem que para isto não se pode ser telhado.
Nestes mesmo idos está em extinção a figura do cidadão
preocupado com o bem-comum, interessado em aperfeiçoar os mecanismos que
atendem a coletividade, eis que se você reclamar de algo que esteja ruim no
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, já lhe desce a pecha de “antipetista”
ou “de direita”; caso reclame de algo que esteja ruim na administração da
Cidade de Porto Alegre, já é tachado de “comunista” ou “de esquerda”, logo,
mesmo que você não seja, assim será definido.
Portanto, é muito fácil ser alçado a figura de inimigo
político ou ideológico de determinado aglomerado político (partido político),
para tanto basta exigir melhoras, mudanças, medidas benéficas a toda a
sociedade, austeridade, extinção de privilégios, eis que isto afetará
personalidades vinculadas politicamente a determinada ideologia ou partido. A miopia
e o fundamentalismo grassam tanto, que não se enxerga mais a crítica ou
reclamos a pessoa da autoridade, e sequer se discute o mérito desta crítica ou reclamação,
eis que pode ser justa e razoável, mas o que alça a discussão é a questão
política e, você, que foi interessado e preocupado com o público e com o bem-comum,
passa a ser olhado como um não aliado.
Neste insano dualismo de que, ou se está do meu lado,
ou é meu inimigo, tudo vira culpa do administrador público com mandato, mormente quando é meu adversário
político, que passa a ser responsável pelas chuvas, pelos ventos, pelo frio,
pela derrota do meu time de futebol, por minha incapacidade, por meus
infortúnios, e até mesmo pelo lixo que eu mesmo acumulei na frente da minha
casa.
Isto muito me lembra a obra de Tomas Hobbes, “o Leviatã”,
que resumiria o Estado na figura de um monstro, que concentraria todo o poder
em torno de si, e ordenaria todas as decisões da sociedade, ou então a
filosofia maniqueísta, que resume todas as coisas em doutrinas fundadas nos
dois princípios opostos do Bem e do Mal; No caso da política brasileira a
dualidade é simples: Ou se é aliado, ou se é adversário.
Neste mar de incoerências aflora uma única e malfadada
coerência: A que traça os que são aliados ou inimigos. Quer ser aliado basta
concordar piamente com qualquer coisa que a aglomeração política faça, mesmo
que seja contra a lei, mesmo que traga prejuízos à coletividade, mesmo que seja
imoral e antiética, porém, se não concordar com estas práticas duvidosas, está
então no lado dos adversários, e você terá que ser abatido, maculado,
extirpado, injuriado, e tudo mais que seja possível infligir a um inimigo.
O meu consolo é que a política é instrumentalizada por
pessoas, e pessoas mudam, e quem sabe está prática política deletéria a sociedade mude também, entretanto, para que a mudança
ocorra, ela precisa ser desejada.
Opinião, por Ronie de Oliveira Coimbra
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