Pode parecer desimportante, mas o sumiço de 26 dos 32 guarda-chuvas colocados à disposição do público para empréstimo pela prefeitura de Santa Cruz do Sul diz muito sobre a resistência da cultura da esperteza entre os brasileiros. Compartilhar equipamentos públicos é sempre um teste de cidadania. Envolve a ideia do uso comum de instalações e objetos que só cumprem sua finalidade quando preservados e devolvidos para que outras pessoas também possam utilizá-los. Mas as depredações de prédios, equipamentos de praças e sinalização de trânsito evidenciam a falta de educação e de espírito de solidariedade de parcela expressiva da população. Além disso, algumas experiências de oferta de equipamentos para o público, como o empréstimo de guarda-chuvas e o aluguel de bicicletas, resultam com frequência em comportamentos de egoísmo e até mesmo de desonestidade explícita.
Não é regra geral, cabe reconhecer. Os danos e a subtração de bicicletas nas cidades que adotaram o sistema de aluguel são pouco significativos na relação com a maioria, que respeita as regras e devolve o equipamento em bom estado, no período contratado. Mas sempre aparecem os espertalhões para comprometer o avanço coletivo.
A sociedade e as próprias autoridades costumam ser demasiado tolerantes com desvios éticos. É um erro. São pequenos delitos que geram a cultura da apropriação indébita e da corrupção, tão repudiada pela população quando ocorre nos altos escalões da governança do país. Políticos que se comportam mal, porém, costumam ser apenas a representação proporcional dessa parcela de brasileiros que desrespeitam as regras e os direitos de seus semelhantes. Embora o país já se tenha habituado à generalização, até mesmo porque as irregularidades cometidas por governantes e políticos sempre ganham maior visibilidade quando flagradas, a verdade é que os agentes públicos infratores representam de alguma forma os maus cidadãos, aqueles que também roubam e destroem o que é de todos.
A diferença entre apropriar-se de um guarda-chuva emprestado e desviar recursos públicos para o próprio bolso é apenas quantitativa, pois a qualificação é a mesma: furto. Furtar, explica o dicionário, é subtrair fraudulentamente coisa alheia. Pois a pátria mãe tem sido subtraída não apenas pelos poderosos, com suas tenebrosas transações, mas também por larápios de todos os segmentos sociais, que acabam contribuindo para essa cultura da indecência.
Mas a revolta que tais comportamentos despertam na maioria honesta mantém acesa a esperança de que, como cantou Chico Buarque, um dia tudo isso vai passar. A pátria mãe tem sido subtraída não apenas pelos poderosos, com suas tenebrosas transações, mas também por larápios de todos os segmentos sociais.
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