Nos Estados Unidos, um
conjunto de leis claras e sem lacunas rege a conduta policial. Os policiais
norte-americanos não precisam usar algemas ou qualquer arma leal ou não-letal.
Não precisam a não ser que eles queiram, com o fim de proteção de sua integridade
física. Portanto, a orientação de todo um sistema respaldado por policiais,
juízes e promotores é no sentido de que as pessoas não devem resistir às
prisões, ou será utilizada qualquer meio para detê-la. Não estou aqui querendo
entrar no mérito do conteúdo da lei, nem vou iniciar discussões sobre abusos
policiais. Apenas quero referir que o policial norte-americano sabe o que pode
fazer, e não teme que sua conduta possa ser questionada pela corporação, mídia
ou sociedade.
Aqui, não é possível
fazer tal afirmação. Aliás, não se pode fazer qualquer afirmação, eis que o
policial brasileiro está totalmente desprovido de diretrizes e normativas que
possam deixá-lo com a certeza de como agir em cada situação. Até mesmo quando o
policial está diante de uma situação que considera perigosa, não existe um
comando especifico de conduta.
O problema é que o
policial, quanto enfrenta uma dúvida em seu trabalho, não está optando por uma
corrente jurisprudencial, sentado, escrevendo uma peça processual. A hesitação
do policial é sobre agredir ou ser agredido fisicamente, matar ou morrer. E
essa dúvida, caro leitor, você possivelmente nunca terá na vida, então creio
ser difícil opinar.
Notem, este é o maior
dilema do policial hoje: a opinião acerca de seu trabalho. Pode ser que o
cidadão o reprove, por ser que a mídia o censure, pode ser que o juiz o
condene. E então, a questão que surge é: prefiro arriscar ser morto pelo
criminoso ou ser execrado pela sociedade? Morrer me defendendo ou viver me
defendendo?
Um exemplo emblemático
e recente foi a morte do policial milita Luiz Carlos Gomes da Silva Filho, em
julho deste ano. Desde já peço desculpas aos colegas policiais por lembrar
deste triste episódio, mas essa situação ilustra com perfeição como funciona nosso
sistema numa abordagem. Em face de uma resistência de um abordado, que
aparentemente não portava arma, o policial, desprovido de qualquer legislação
sobre sua conduta, optou por não atirar. Nos Estados Unidos, o policial sabe
que ali poderia usar uma arma letal. No Brasil, o país dos contornos
legislativos, não há o que dizer a respeito, não há como se dizer que o
policial pode e deve fazer e assim perdemos mais um excelente policial. Que a
lei seja clara e diga que o policial pode reagir quando houver resistência ou
então diga que não pode. Até porque se optar pela última diretriz , peço minha
exoneração de vez.
*Delegada de Polícia, plantonista da Delegacia de Polícia
de Pronto Atendimento de Passo Fundo, RS.
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