Gosto de ouvir rádio. Sou eclético e fico a navegar pelas estações, ouvindo uma música aqui, outra música lá, um noticiário acolá, às vezes até a voz do Brasil eu ouço, e você, caro leitor, ficaria surpreso com as informações que ali receberia.
Entretanto, dias destes, em determinada programação, escutei um apresentador dizer que as autoridades, dentre estas com certeza as policiais e de trânsito, tinham equivocadamente elegido o responsável a causar os acidentes de trânsito: O motorista, ou condutor, como queira o leitor. E que aquelas autoridades, ao invés de apontarem este “inocente” responsável, que fossem fiscalizar as ruas, avenidas e estradas, com o fito de evitar acidentes.
Não faço reparo quanto à necessidade de fiscalização, eis que necessária, e, como lidamos com seres-humanos, e como nos aponta o senso-comum, as pessoas quando se sentem fiscalizadas, em regra, cumprem as normas que lhe são impostas, e, obviamente, muitas, quando não tem esta sensação, tratam logo de burlar a regra.
Entendo ser este o ponto nevrálgico da discussão. Algumas pessoas imaginam que a fiscalização deva ser onipresente e onisciente, tal qual uma divindade, e, por conseguinte, estar presente em todos os lugares e tudo saber. Não é necessário exigir muito de nossa inteligência para concluir que isto é impossível, mas, muito simples de concluir, também, que é mais cômodo culpar a autoridade que compete fiscalizar do que o responsável pelo acidente.
Desconheço no que o apresentador embasou seu raciocínio. Creio que foi uma alusão teórica (o achismo), muito comum na imprensa atual em que apresentadores possuem a infinita capacidade de conhecerem e dominarem tecnicamente todas as ciências do universo, demonstrando conhecimentos de causar inveja aos engenheiros da NASA, e, convencidos desta erudição, passam a emitir opiniões sobre tudo e todos, e, o pior de tudo, é que passam também a influenciar a opinião dos outros, que entendem como a mais cristalina verdade a “opinião” do apresentador.
Eu apresento dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que apontam que o condutor do veiculo é responsável direto por 70% dos acidentes automobilísticos, e mesmo no restante do percentual de 30%, em que as causas apontadas possam ser as condições da via, de visibilidade e do veículo, em grande parte delas há que se considerar a omissão do condutor na manutenção do seu veículo ou então de não adequar a velocidade de seu veículo as condições da via e da visibilidade, o que alça o percentual de acidentes automobilísticos causados pelo condutor em mais de 90%.
Portanto não há que se falar em equivoco na fala das autoridades quando apontam que o responsável pelos acidentes de trânsito, em sua grande maioria, é o condutor do veículo. Nestas questões que envolvem vida não existe espaço para o politicamente correto ou para falácias. A verdade deve ser dita, doa a quem doer.
Inquestionável que a fiscalização deva sempre ocorrer com a plenitude que os órgãos públicos possam oferecer, mas, esta fiscalização sempre será insuficiente enquanto pessoas conduzirem veículos de forma irresponsável e sem respeito às regras e normas de trânsito, mormente quando estas pessoas percebem que ninguém está a lhes fiscalizar, o que demonstra uma total falta de consciência, eis que somente respeitam as regras quando percebem que podem sofrer alguma responsabilização ou admoestação por parte de um agente público.
Por fim, então, valho-me da citação bíblica “dê a César o que é de César”, para apor como desfecho que responsabilizemos os culpados de acordo com a culpa que tem, e não procuremos outros culpados, quando já identificamos quem verdadeiramente tem culpa.
Major na Brigada Militar do RS.